Tenho 44 anos, sou mãe de 5 filhos. Sou a mais nova de 6 irmãos e comecei a encharcar tinha o meu filho 2 aninhos (há já 15 anos), bebia com o meu pai, andava ao jornal na agricultura, muitas vezes não havia água, estava calor e o patrão dava uma pinguinha. O vinho dava-me força para trabalhar e era isso que os patrões queriam.
Depois, já não me lembro bem, precisava de beber e tinha que arranjar dinheiro e por isso andava com homens. Já tinha os meninos todos pequeninos, as pessoas que me procuravam eram por causa do álcool as outras afastaram-se de mim. A culpa era minha pois eu tratava-as mal. Muitas vezes as pessoas falavam para o meu bem e eu não as respeitava por causa da bebida.
Os meus filhos foram todos para o Colégio, não me lembro de os visitar. O meu marido foi preso há 3 anos e eu fiquei sozinha. Estava a morrer. Tive muita ajuda da D.I (vizinha) foi ela quem me levou ao Centro de Saúde que eu já estava… nem sei explicar… estava só… sei que foi a D.I que me valeu. Fui internada na Casa de Saúde do Bom Jesus de Braga, mas quando saí voltei a beber, e passado cerca de 15 dias voltei a ser internada.
Quando tive alta fui para a Comunidade (Comunidade de Inserção Social de Esposende), no primeiro mês chorava que me fartava, não queria lá estar, tinha medo de não conseguir fazer as coisas. Estive lá 1 ano e foi muito importante porque esqueci-me das coisas más que fazia, deixei o álcool.
Quando saí fui viver para uma casa da Câmara e comecei a receber o RSI. Assinei o acordo e comecei logo a ir à escola à noite (EFA B2) e fui trabalhar para a Junta de Freguesia (CEI+). E comecei a ir à consulta do Centro de Saúde de Vila Verde (Consulta de Problemas Ligados ao Álcool). Nesta mudança o mais importante foi largar a vida em que eu andava por causa do álcool, e o álcool… fez-me outra mulher… sinto que sou outra mulher.
Em Setembro fui à festa de anos do meu neto, passei lá a tarde com os meus filhos. Há 2 ou 3 anos atrás não era possível pois os meus filhos não se aproximavam de mim. Senti-me amada e feliz. Os meus filhos dizem que agora estou mais bonita e para agora ter cabeça e não me voltar a meter onde me metia. Nunca saía de Vila Verde agora quando vou a Braga visitar os dois mais novos eles querem-me mostrar tudo. Corro aqueles shoppings todos, corro toda a santa tarde, quando chego a casa nem sinto as pernas.
O meu sonho é ter o meu marido de volta, é ter a família à minha beira… não sei… é importante ter as pessoas à minha volta. Quando vou na rua as pessoas até dizem “caramba M agora que tás boa nem nos ligas”, muitas pessoas dizem isso, mas eu muitas vezes não as vejo, agora querem falar comigo, já confiam em mim. Muitas pessoas dizem, e eu sinto, a M morreu e ressuscitou.
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