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29 de junho de 2010

“Necessidades em Portugal: tradição e tendências emergentes”

Um quinto da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza e muitas outros passam por dificuldades, mas a maioria consegue estar satisfeita com a vida que tem.

Isabel Guerra, uma das autoras do estudo que chegou a estas conclusões, diz que os bens materiais muitas vezes se sobrepõem às necessidades pessoais. Isabel Guerra explica que as pessoas silenciam necessidades, baixam a expectativa e conciliam-se com a própria vida. Isabel Guerra aponta também estratégias para alterar o estado das coisas

Um quinto dos portugueses vive abaixo do limiar da pobreza e enfrenta dificuldades para pagar as contas da casa, a alimentação e a escola dos filhos.

Os dados constam de um estudo que vai ser hoje apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian. Um total de 57 por cento das famílias inquiridas, vive com menos de 900 euros por mês.

Quanto aos empregos o trabalho não desagrada, mas no que se refere aos salários os portugueses estão insatisfeitos.

O estudo mostra que 41,3 por cento das pessoas que exercem uma actividade profissional remunerada vive situações de precariedade laboral e mais de 50 por cento considera que o salário que recebe é injusto.

Apesar das dificuldades económicas, as famílias portuguesas não fazem uma avaliação negativa da vida. Numa escala de 1-10, a satisfação com a vida alcança em termos médios um valor superior a 6 e o grau de felicidade atinge os 7,3 por cento.

A família e os amigos são os principais factores de satisfação. Pior é a confiança nos outros e nas instituições, neste caso fica-se pelo 4,5.

Neste estudo “Necessidades em Portugal: tradição e tendências emergentes”, foram inquiridas 1237 em Portugal Continental.

Isabel Guerra, uma das autoras deste trabalho promovido pela TESE- Associação para o Desenvolvimento, coordenado pela Fundação Gulbenkian e pelo Centro de Estudos Territoriais do ISCTE, sublinha uma das conclusões, a de que as necessidades materiais muitas vezes se sobrepõem às restantes.

«As necessidades mais ligadas ao ter, ao que chamamos as necessidades físicas e de recursos, acabam por abafar no discurso dos portugueses as necessidades mais ligadas ao ser, questões da convivência, de ter tempo para si, auto-cultivo», explica.

A investigadora acrescenta ainda que o grau de felicidade dos portugueses apurado pelo estudo reflecte sobretudo um estado de resignação que é necessário combater.

«As pessoas silenciam as suas necessidades se não virem condições de as satisfazer, baixam as suas expectativas e acabam por se conciliar com a sua própria vida. Nesse sentido, a sociedade portuguesa embora tenha muitas privações, emerge como uma sociedade relativamente feliz e satisfeita consigo própria», afirma Isabel Guerra, salientando que apesar das dimensões positivas, este estado pode provocar falta de capacidade para a acção e para progredir.

Feito o diagnóstico, o estudo que hoje é revelado, aponta também estratégias para alterar este estado de coisas. Isabel Guerra diz que o essencial será estruturar um plano de acção que permita e promova a reacção das pessoas no sentido de uma vida melhor.


Fonte: TSF
Data: 28-06-2010
Tema: Pobreza

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