Fonte: http://www.jn.pt/ PaginaInicial/Sociedade/ Interior.aspx?content_id= 2881733&page=-1
Esta notícia tem diversas dimensões muito preocupantes.
Pensemos alto: a sociedade que todos ajudamos a construir tem permitido criar condições de conciliação da vida familiar com o cuidado às gerações mais velhas? Eu responderia um redondo "não!".
Andamos todos a tentar encontrar culpados, a apontar o dedo, a expiar a culpa. A "família", esse sistema a que nunca apertámos a mão porque é uma construção emergente da interacção dos seus membros, tem sido um amplo saco de pancada, um alvo para apontar o dedo. E que apoia a família a apoiar? Devemos preocupar-nos em apontar o dedo ou em encontrar soluções? Guy Ausloos chamou-me a atenção para que a palavra CULPABILIDADE encerrava em si um conceito bem mais interessante do que o de CULPA... a (H)ABILIDADE. Estaremos dispostos a potenciar as nossa habilidades para encontrar soluções?
Num contexto social onde as pessoas têm direito a 15 dias por ano para cuidar dos seus doentes/dependentes, o que é uma "fartura" sobretudo quando o nível de dependência é elevado. Onde as pessoas são penalizadas fortemente se optarem por trabalhar a meio tempo ou por se reformarem antes dos 65 anos, opção ora suspensa... Onde as respostas sociais são provavelmente cada vez menos acessíveis face ao rendimento disponível das famílias. Onde apenas uma medida, que tenho de aplaudir, foi tomada neste sentido, embora ainda não esteja devidamente consolidada a nível nacional, refiro-me ao internamento por exaustão familiar da RNCCI. Afinal quem são os culpados?
Fiz recentemente um estudo com uma aluna e uma colega (http://www.aps.pt/vii_ congresso/papers/finais/ PAP1067_ed.pdf) onde se percebeu que os adultos de hoje, se confrontados com a necessidade de cuidar dos seus pais, respondem, numa maioria esmagadora, que gostariam de cuidar deles informalmente. Mas será isto possível? Haverá condições para que possam cuidar? Se pensarmos que aos 65 anos, as suas mães terão 92 anos em média, idade que ultrapassa largamente a esperança média de vida, quando estivermos mais disponíveis para cuidar, já não existem as pessoas que gostaríamos de cuidar. Afinal, onde está o encontro geracional de que tanto falamos?
Depois há outra questão raramente referida. Quando há recusa no cuidar ou na comparticipação de uma resposta social por parte de um filho... alguém já pensou na história que pode estar por detrás de uma destas decisões? Alguém já pensou que na base de um corte relacional pode haver muita informação que não se pretende partilhar? Alguém já pensou que não tem direito a apontar o dedo sem compreender as razões? Alguém terá direito a impor o apoio, supostamente recíproco, a um(a) filho(a) que foi antes maltratado, negligenciado ou abandonado, por exemplo?
Claro que também há famílias onde os maus tratos existem. Não recuso esta realidade. Essas famílias têm de ser responsabilizadas e acompanhadas. Mas será este o problema de fundo? Não haverá outros?
Claro que também há famílias onde os maus tratos existem. Não recuso esta realidade. Essas famílias têm de ser responsabilizadas e acompanhadas. Mas será este o problema de fundo? Não haverá outros?
Talvez seja mais fácil apontar o dedo e seguir em frente, como se os problemas ficassem resolvidos.
Ou os problemas que se pretendem resolver são outros? Os das instituições que assim passarão a ver comparticipadas ou pagas as camas ocupadas... São estes os problemas a resolver? São estas as nossas prioridades?
APRECIEI MUITO.
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